AGORA TAMBEM TEXTOS SEM ACENTUACAO E SEM PONTUACAO

SOU O QUE SEREI

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A PRINCESA NO DESPENHADEIRO

Olhe ao seu redor. 
O que vês? 
Uma miragem? 
Exato, 
mas você corre atrás dela assim mesmo. 
Sabe ser inútil, mas a razão nunca foi páreo para a esperança. 
Só percebe o precipício quando já é tarde.


A queda proporciona um prazer sublime. 
A ausência do apoio, a brisa no rosto, o corpo inteiramente livre. 
Você não vê o fundo do abismo e sorri. 
Fecha os olhos e volta a sonhar.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ANA E SEUS MIL PAIS

(Por: Reverendo W. Van Baco)

Kubrusly é o único amigo de Ana. Ele é órfão. Jamais conheceu nenhum parente. Você deve ser a pessoa mais feliz do mundo, vivia lhe dizendo Ana. Krubusly passou toda a infância e adolescência na rua, praticando pequenos furtos, morando em reformatórios. Até ser adotado por uma viúva engajada em causas sociais. Ele deve ser a pessoa mais feliz do mundo, Ana comentava com as paredes. Hoje em dia, já um adulto, Kubrusly passa os dias divagando na penitenciária, onde cumpre pena por assassinato.
Kubrusly deve ser a pessoa mais feliz do mundo, pensa Ana.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O ÚLTIMO TETRARCA

(Por: Reverendo W. Van Baco)


Tetrarca. Gosto dessa palavra. Não sei por que me veio à mente, pergunte para algum especialista em redes cognitivas. É uma palavra rara, um diamante lexical, por isso talvez brilhe tão intensamente. Tetrarca. Existiram poucos tetrarcas, assim quase ninguém já ouviu ou leu essa palavra. Como pode mera combinação fonética formar tão precioso tesouro? Eu pagaria para tê-la como único senhor. Mas não vou repeti-la mais, não retornarei a esse assunto. Não deixemos o diamante se transformar em pedra.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ZINE-SE

Dois zines que circulam pela net:

O Reboco Caído é produção de Fábio Barbosa, que faz um incansável trabalho ativista em Niterói / RJ. Traz ótimos textos sobre o atroz cotidiano das metrópoles e entrevistas. Uma amostra no blog: http://rebococaido.blogspot.com/ e pode ser solicitado pelo mail fsb1975@yahoo.com.br


O Juvenatrix já está na 124ª edição. São quase 20 anos de história, uma marca inacreditável para um fanzine. E sua regularidade todo esse tempo realmente impressiona. Renato Rosatti nos apresenta um painel de tudo que vem acontecendo de melhor no mercado independente do horror e do fantástico, com uma pitada de metal extremo pra ficar ainda mais saboroso. Além de farta divulgação, várias resenhas de filmes e textos ficcionais. Acompanhe em www.juvenatrix.blogspot.com e peça pelo renatorosatti@yahoo.com.br .

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Hipnótico

Dois clipes impactantes: no primeiro, a presença magnética de Tina Root. No segundo, a escuridão esculpida em quadros de rara profundidade.

Switchblade Symphony - Clown


 Triptykon -  Shatter

Rush in Rio - 10/10/10

(Por: Juzé da Ciuva)

Poucas bandas valem realmente ver ao vivo. Uma dessas poucas é definitivamente o Rush! Na chamativa data de 10/10/10, os canadenses incendiaram a Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Que show! Como se não bastasse a maestria instrumental da banda, o profissionalismo deles impressiona. Tudo foi muito bem montado, muito bem feito. Souberam usar com competência todos os recursos disponíveis, 3 telões, efeitos luminosos e pirotécnicos, um espetáculo completo. E o mais importante: primorosa a qualidade do som. Com tudo funcionando com precisão rushística, era só mergulhar em um turbilhão de ondas sonoras das mais perfeitas já produzidas. Além de tocarem na íntegra o álbum Moving Pictures, desfilaram clássicos desde os anos 70 até músicas inéditas, com direito aos temas instrumentais fantásticos de YYZ, La Villa Strangiato, e 2112. Um exemplo ficou para as bandinhas preguiçosas de plantão: os músicos da banda são aproximadamente sexagenários, mas mesmo assim ainda fazem show de 3 horas de duração. Era nítido o empenho e a satisfação dos caras em estar ali. Isso é o que faz um show valer a pena. Tal dedicação levou o público a participar ativamente em quase todas as músicas. Depois dessas 3 horas a pergunta que se ouvia na pista era: Como assim? Já acabou?
 
 
Rush - 2112

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ereções 2010

(Por KWY)

Está chegando a hora de votar! Finalmente! Existe período mais brochante no calendário da sociedade civil que a época eleitoral? É o auge da hipocrisia humana. Segundo os demagogos e intelectualóides de plantão, é a "festa da democracia". É tanta democracia que sequer podemos optar em votar ou não, somos obrigados a comparecer às urnas e defecarmos nossos votos.
O nível dos candidatos realmente impressiona. Qualquer porra se acha preparado e no direito de entrar na roda. Todos querem uma fatia do bolo. E a turma em geral nem promessa faz mais, as campanhas se baseiam exclusivamente nos apadrinhamentos e marketing pessoal. Nenhuma idéia, só discursos vazios.
Se é pra fuder com tudo, vamos voltar pra monarquia! Nesse regime pelo menos é só o rei que nos fode!!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A PEREGRINAÇÃO DO SERVO DE ISHTAR

Parte I



Entre uma pedra de ópio e outra, minha namorada revelou estar grávida. Continuei rindo. No dia seguinte desapareci. Jurado de morte em três províncias só me restou ir para Secunderab. Rhana, ex-amante, é agora dona de um prostíbulo, não vai me recusar pousada. A Índia não tem o mesmo sabor da Tailândia, mas aqui ao menos não corro risco de ser açoitado em praça pública (por enquanto). Vou logo perguntando pelas pompoaristas. Não tem? Pra que me serve essa porra de lugar então? Tento não olhar pra seus olhos, pérolas negras sobre mantos alvos de seda, mas não consigo. Não acredito que amo essa mulher. Convido Rhana para irmos embora, juntos. Vamos para o tibete. A colina mais distante e deserta, vamos fundar nossa própria civilização. Ela aceita. Mas no dia seguinte desapareço, sozinho uma vez mais.

A BRISA

(Por: Reverendo W. Van Baco)


Sentada de costas para a janela.
A cortina esvoaçante roça seus ombros.
Uma carícia inesperada.

A brisa cessa.
Resta a carência.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Hordes of Chaos: Mais um clássico do Kreator

(por: KWY)



Isso mesmo: embora Hordes of Chaos seja o álbum mais recente do Kreator, lançado em 2009, já pode ser listado entre os grandes clássicos desses monstros do Thrash Metal mundial.
E que fase vive o Kreator. Não tenho nenhum receio de afirmar que atualmente é a maior banda Thrash do mundo. Se nos anos 90 eles decidiram experimentar e fazer um som diferente (o que aliás fizeram com muita competência), desde que retornaram ao Thrash vivem um momento incrível. É um álbum melhor que o outro. Violent Revolution, de 2001,  já foi muito bom. Enemy of God, de 2005, foi espetacular. E este Horde of Chaos é ainda melhor. Como é bom presenciar as grandes bandas oitentistas produzirem em sequência obras tão seminais quanto as do início de suas carreiras. E o caso do Kreator é particularmente interessante porque o som recente deles, desses três últimos álbuns, é bem diferente do som que faziam nos anos 80, inicio dos 90. Só que possui a mesma pegada, a mesma vibração e fúria. Ou seja, eles incorporaram elementos do Thrash moderno, como um toque melódico nas composições, mas não abandonaram os elementos fundamentais do Thrash oitentista, como a agressividade e a velocidade. O melhor dos dois mundos.
E tudo já começa pela capa. Que arte espetacular! O realismo da ilustração é impressionante, dá pra ficar viajando tempos diante da riqueza de detalhes. E eles lançaram o álbum também em LP, com capa diferente do CD, para o deleite dos fãs.
Na parte técnica, também o primor. Os músicos da banda vivem grande momento e um entrosamento perfeito. Todo o álbum é muito bom, mas duas músicas merecem destaque: Hordes of Chaos e Demon Prince – a música de abertura e a de encerramento. É impossível ouvir e não empolgar.
Que venham mais clássicos.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Watchmen: uma rápida leitura do filme

(Por Juzé da Ciuva)

Esses dias finalmente assisti WATCHMEN, adaptação para o cinema de uma das HQs mais cultuadas de todos os tempos. O filme surpreendeu bastante, pois causou um impacto que eu não esperava. Não li a HQ, assim vi o filme sem nenhuma idéia pré-concebida, sem nada saber sobre a história.
Os produtores do filme decidiram fazer uma adaptação fiel do original. Se por um lado, essa decisão pode não agregar muito para quem esperava algo de novo, por outro, muito alegra os fãs que não queriam ver a obra mutilada no cinema. Geralmente, ser fiel ao original é o melhor caminho para garantir a qualidade, afinal, se a HQ for boa, já teremos pelo menos um excelente roteiro.

ATENÇÃO: ESTE RELATO CONTÉM SPOILERS, SE NÃO VIU O FILME NEM LEU A HQ E NÃO QUER TER OS MOMENTOS DECISIVOS REVELADOS, NÃO LEIA.

No enredo de Watchmen, todos os conceitos que conhecemos sobre super-heróis são subvertidos. Os heróis que acompanhamos são pessoas de habilidades excepcionais, mas pessoas também cheias de defeitos, em constante conflito diante da complexidade moral que envolve seus atos. Pessoas que se perdem quando descobrem que não sabem pelo quê estão lutando. É muito interessante notar que na trama não temos heróis lutando contra vilões. Temos heróis contra heróis. Ou vilões contra vilões, dependendo do ponto de vista. Watchmen demonstra que a linha que separa heróis e vilões é muito mais tênue do que se imagina. Temos o comediante, o anti-herói no sentido mais radical, que prontamente atende aos chamados governamentais para defender a pátria, e mais prontamente ainda pratica, sem hesitação e sem remorso, atrocidades inimagináveis. Temos Rorschach, que segue seu próprio código de conduta e, embora esteja cagando para os valores morais vigentes, ainda mantém acesa a chama de um certo idealismo, tentando a seu modo promover o que podemos chamar de bem. Mas é diante da (im)potência do Dr. Manhattan que temos o grande momento do filme. Durante todo o tempo, ele é o Super Homem clássico, o herói perfeito, o grande protetor, sábio e caridoso. Só que o seu extremo racionalismo é a perdição de seus protegidos, pois no final ele percebe que se milhões de pessoas tiverem que ser sacrificadas para um bem maior, isso deve ser feito. Mesmo tendo sido usado e enganado, ele compra a idéia de Ozymandias e pior para quem se opor, os fins justificam os meios. O final é bem impactante e inesperado. Quem não conhece o gibi, inocentemente acha que Rorschach e o Coruja conseguirão impedir Ozymandias e salvar o mundo. Mas o desfecho é bem diferente. Remete à segunda guerra mundial: vou jogar uma bomba atômica em vocês, devastar um país e aniquilar milhões de inocentes, mas é tudo pela "paz mundial". E, novamente, quando achamos que acabou e fecharemos com esse final negro, a ultima cartada. O diário de Rorschach, responsável por todo um clima noir que envolveu o personagem durante o filme, cai nos braços da mídia. O diário que contém em detalhes fatos que levam à verdade sobre o genocídio ocorrido. Uma conclusão genial. Tenho que ler esta HQ sem mais delongas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ESPELHO

(Por Reverendo W. Van Baco)




Inútil manipulador de sonhos
Símbolo da decadência ancestral
Por mostrar simplesmente
Reflexos de reflexos

terça-feira, 31 de agosto de 2010

2046

(Por Reverendo W. Van Baco)

era um garoto de roça, comia o cu de cabras e nadava no ribeirão pra relaxar. Depois fui pra capital estudar, comia o cu de putas e navegava na internet. Afinal me formei em medicina, comprei uma casa e um carro, comia o cu de patricinhas adolescentes e me divertia no bingo. Hoje, 60 anos, meus gostos mudaram um pouco, pago para travestis pintudos me fuderem e coleciono orquídeas. Esta é a mais rara, a Laeliaphedilum Masdevanopsis Orchidaceae. Quem come uma de suas folhas sonha o futuro na noite seguinte. No ínicio é interessante, mas depois enjoa.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CRISE




(Por Wagner T.)








Na mesa a folha pálida
Na mão a caneta ávida
E no final o papel permanece intocado.
Por quê?

RASCUNHO SEM TÍTULO

(Por: Fenilisipropilamina Man)


1 – veja a lebre que foge
      recolhida em seu horror
2 – fugaz o olhar
      pálido o amanhã
3 – leões acocorados
      ninguém mais impera
      sobre a selva devastada
4 – selva de túmulos
      selva de amores esquecidos
5 – o tempo nosso já passou
      plante outra civilização você
      se assim desejar
      eu vagabundo apenas
      vago pela treva que desfaz
6 – imenso o pan...
                 “aí, meu irmão, fica quietinho, senão leva tiro.”
                 Dois. Armados. Um de cada lado.
                 “vai passando tudo, carteira, relógio, celular...”
                 Olho em volta. Nada nem ninguém. Que escolha? Levam tudo. Menos o pedaço de papel e a  caneta, claro. Quem vai roubar expressões alucinadas de um pseudo-artista desconhecido e fudido?
Volto a estar sós com meus versos malfeitos. De onde aqueles porras vieram? Distração: a maldita letra custou caro desta vez. Meu erro, achar que apenas eu ainda rastejava pela relva.

7 – e ainda não vai ser desta vez
      que escreverei versos de amor.

Glória


JESUS CRISTO É O SENHOR
INVOCA-ME NO DIA DA ANGÚSTIA EU
TE LIVRAREI E TU ME GLORIFICARÁS

(Por: Fenilisipropilamina Man)


Palácio? Sim, é um palácio. Coliseu, diriam os romanos. É teatro. É cinema. É programa de auditório. Um enorme telão atrás do palestrante. Imagens suaves para abafar brados selvagens. Sussurro hipnotizante, gritos purificantes. Quem cometeu a maior blasfêmia? Tem prêmio. Você tinha razão, é divertido. Que cadeira confortável. Vamos trepar aqui mesmo. Tô sem grana pro motel. Só uma dedada então. Na saída passamos na lojinha. Tá cara essa bíblia, hein? Num troca por um zine, não? Antes de ir roubamos umas lembranças, eu levo um pôster, você um bonequinho de borracha: “tô sem vibrador”. Jesus salva. Descemos a imensa escadaria, de volta à rua vagabunda. Curvo-me ante aquela construção deslumbrante, incontáveis metros de altura, inúmeras janelas, soberbas abóbadas, monstruosos pavimentos que ocupam todo o quarteirão. Arquitetura neoclássica, ou algo assim. Glória a ti, senhor, este seu humilde servo o saúda.

POEMA FEITO DE BELAS PALAVRAS ALEATÓRIAS ou BELO POEMA ALEATÓRIO FEITO DE PALAVRAS

(Por Reverendo W. Van Baco)

Embrião desfigurado
Semente atômica da cria
Protoplasma do caos e da sede
Filho bastardo da biogenética:
Nas noites sussurrantes que jazem
Corpúnsculos imóveis me tangem
Macabras profecias do saber.
Visões eletroencefálicas do medo
Crepúsculo lunar de interrogações
Nostalgia clássica.
Auscultar mormente o desafio
Abnegar também o prosaico
Brilhante temática de Andaluzia.
Fulgurações cíclicas
Elucubrações atmosféricas
Um porcentual cromático
O inabalável lamento das coisas.
Teocracia estática multivibratória
Incongruente confabulação do passado
Berço voraz transubstanciado em sombras
Aristocratas pálidos regurgitados em agonia
Cães onipotentes em glorioso júbilo orgânico
Declaração verboloquaz de pós-guerra consumista
A primazia é soberba próximo do fim.
Cataclismo total
Desconstrutivismo básico
Rosto retalhado pelas rosas
Esclerose celular múltipla
E quando não o era
Assim.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

REVELADA A ÚLTIMA SEMANA NÃO-DATADA DO DIÁRIO ULTRA-CONFIDENCIAL DE JOSENILTON FIGUEIREDO ABRAPUERI


(Por: Reverendo W. Van Baco)

Segunda:
O que é isso? Não pode ser real! Essa não é a minha vida! Crianças brincam, tantos sonhos, vendidos por uma mixaria. E agora a mente desorientada, mas as pernas sabem pra onde ir, me levam em passadas mecânicas. Não era isso. Quem me escolheu pra esse dia? Medo, muito medo.

Terça:
Idem.

Quarta:
Idem.

Quinta:
Idem, exceto... mas... por quê? Não, não quero. Me deixe. Sim, estou melhor agora. Abro a mente, viajo. Por que não me libertei antes? Sim, tudo vai ser diferente a partir de hoje.

Sexta:
Depois. Por aí. “Olha a loura preta um real. Loura preta um real.” Tomo duas. Adoro cerveja preta. Mais, mais. A região mais sórdida da cidade. Mesa ao ar livre. Gosto de contemplar a lua, ela é tão... tão... tão esférica, como pode? “Quer comprar uma bala, moço? Duas por um real”. Quero comprar sua bundinha, quanto é? Ela fica constrangida, desvia o olhar, continuo: quantos anos você tem? “Treze”. Te pago vinte reais, que tal? Ela resmunga qualquer coisa, de cabeça baixa. “Tenho que vender minhas balas”. Passo por uma rua deserta, ando no meio do asfalto, nada de calçadas, cabeça empinada, peito pra fora, braços balançando, olhar penetrante. Sou o dono dessa porra de rua. Um outdoor, garota-sonho-de-lingerie, anúncio de um fabricante de fraldas, acho. Uma porta aberta, escada pra cima, homens entrando. Não sabia que tinha um puteiro nesta rua. Veio na hora. Vou entrando, mas saio nem cinco minutos depois. Nunca vi putas mais broxantes, uma parecia o Jô Soares. Um boteco mais sujo que cu de elefante. Uma peituda gostosa me atende. “O que vai querer?” Seu decote. Puxa, como gosto do verão. Uma praça, várias pessoas reunidas assistindo uma apresentação, teatro de rua. Chego de mansinho por trás de um sujeito compenetrado na peça. Muita gente ao nosso redor. Tiro a carteira de seu bolso sem muita dificuldade. Outra rua deserta. Vejamos o que temos. Talão de cheque, uma nota de dez reais, carteira de estudante, RG, CPF, título de eleitor, comprovante de inscrição no concurso do TRE, cartão de telefone. Jogo todos os documentos no ralo do esgoto. A carteira com o restante enfio numa caixa de correio. Numa avenida, um traveco me aborda, mando tomar no cu. “Só se for agora”. Volto pra casa. Jogo a pasta no sofá, tiro o paletó, a gravata e o gel. Minha mãe ainda está acordada, assistindo TV. “É, estou sem sono hoje. É bom que podemos conversar, nem vi você esses dias. Como está lá o seu curso, de estratégia... como se chama mesmo?” Gestão estratégica de negócios, mamãe. Amanhã conversamos. Estou muito cansado.

Sábado:
...muito bem, risos, isso, ótimo, ótimo. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha. Porra, porra, porra, PORRA!!! está definido. Amanhã vou me matar.

Domingo:
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